Açoita-me

    Coloquei meus óculos velhos - agora novos, recém encapados com fita isolante preta - e andei como um zumbi até o banheiro, ao chegar na porta sinto um cheiro muito forte de alguém que preciso desapegar. Eu sou bom nisso, mas sentir isso agora, de repente, foi como um soco na cara, e meu sangue são as lembranças doloridas de algo que não volta. Meu cabelo estava desgrenhado, combinava com a situação peculiar. O cheiro ainda açoita minhas narinas, e a cada suspiro eu suspiro querendo esquecer, mas o cheiro me ataca com tanta violência que permaneço imóvel, desejando que o cheiro nunca mais acabe. Ou que volte o cheiro número dois, daquele ser número dois, que me fez sentir como um número dois na vida. Cheiro quente, amadeirado. Não doce, como o meu ex-ser-que-era-meu doce. Bela noite essa, a do espancamento.

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