Você
Meu melhor é pouco, mas é tudo que tenho.
Tudo que posso oferecer é seu, mesmo que o que eu entrego seja meio morto, tipo um Romeu.
Sou cansado, sou judiado, arrasto correntes que estão presas no meu tornozelo.
Às vezes as correntes se enroscam e não dou passos para a frente.
Não dou passos para trás.
Fico parado esperando o tempo passar.
Se não houvesse pensamento seria meditação, mas minha mente aproveita meu desalento e entra em ação.
Tudo que eu tenho de melhor é seu, mesmo que o que eu entrego seja menor que uma pequena andorinha no céu. Ela voa, voa, voa.
Vôo também. Mas eu ainda tenho minhas correntes que só eu posso levar.
Sei que você é meu caminhãozinho, mas seus tijolos já são pesados demais para eu depositar os meus. Pelo menos não quando suas costas estiverem pesadas. Se elas estiverem pesadas junto seu peso ao meu. Eu te carrego inteiro e seu mundo todo. Mas isso me faz um estrago às vezes, porque eu me enveneno demais comigo mesmo. Mas depois que vejo seu sorriso, sua gargalhada, que é meu antídoto, fico leve e consigo me entregar bem ao seus braços, que é minha morada favorita. Eu ando precisando de teto, porque o meu ruiu em cima de mim, e as confianças foram quebradas entre laços e conexões milenares... Mas eram laços fracos, se minhas correntes ainda são mais fortes que ela. Eu sempre fui um cadeado sem chave, mas com você eu pareço uma aeronave, pois me vôo pelos ares despejando meus sentimentos aqui e ali. Isso me aterroriza. Saiba que você é o meu diário diário, me escrevo em você todos os dias. Posso parecer uma parede as vezes, mas como uma boa parede, serei todo ouvido. Eu posso usar meu silêncio com você sem medo, você entende. Entende, não? Sou uma cachoeira que às vezes para de cair, e fica quietinha como um lago, mas ainda estou lá. Sou uma árvore verde agora, pois você me regou, mas morro de medo de dizer a frase "O vento finalmente me carregou", arrepia. Né, piá?
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