O CÉU NUBLADO

O ar frio da manhã é como um suave lembrete de que mais um dia chegou, e mais um dia automaticamente se foi. Ao olhar para o céu nublado, não se consegue ver nenhuma forma, pois as nuvens se misturam densa e obscuramente. Não era diferente com você. Todas as vezes que te vi, era como se você fosse um céu nublado. As formas apareciam ocasionalmente, e se via trovões. Os olhos de fenda me encaravam e a resposta era insincera. Queria sempre mais. 
Calados por anos, vigiados pelo tempo, perderam a oportunidade de verbalizar as mais profundas vontades, mesmo que por um sim, por outro não. Mas nunca se sabe; nunca se falou. Essa nuvem nunca tomou forma. A lembrança de um breve toque cantarola esgueirando-se na mente, pé com pé, um carinho trocado envergonhadamente, com medo. Coração acelerado, um leão desenhado no papel, feito de presente.
Percorrido caminho, morou-se dentro intimamente, foi-se embora devendo, nunca pagou, nunca pagará. Deve mais palavras do que valor real, mas a covardia é um grande inimigo. Um covarde, um fechado, é um céu nublado versus um céu estrelado – infinito.
Hoje se tem sol, mas não brilha para ninguém exceto atrás das nuvens densas. Com sol, mesmo em dias limpos, as estrelas não seriam visíveis. Ficaram para trás, o calor do sol era encantador; tão diferente. Orgulhava.
Tudo é lembrança dentro de um baú velho, afinal, onde não existe nada além de uma coleção de desenho, uma caixa de lápis, um isqueiro e um cheiro. Esse cheiro passeava pelas narinas do céu estrelado desde então, praticamente todos os dias. Era amor, talvez. O céu estrelado se sentia acolhido com nuvens que o escondia, era seguro. Mas o sol o fazia desaparecer de vez do mapa, invisível e indiferente. As nuvens nunca mais pensariam nas estrelas.
Dizem que o sol pode parar de brilhar; e se isso acontecer as estrelas serão a luz, e as nuvens estarão livres para chover enquanto mergulham no universo interestelar.

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