De Medo em Medo a Ansiedade Enche o Papo




Ele sente o cheiro, sente o calor e vai te causar dor. Não o deixe saber que você pensou nele, ou te agarra mais uma vez e te faz ser-me. Possui um mecanismo traiçoeiro dentro de si mesmo, que te conhece melhor do que ninguém, porque ele é você, mesmo você não o sendo inteiramente - mas em cacos. Arma-se de si enquanto se destrói mais uma vez. Pense! Se o medo te dá voltas, dê voltas ao medo. Vozes ecoam ao pensar "Oh, o que será de mim se o medo em mim morar - o que será de mim se de mim ele alimentar? Será que ele vai voltar?" Então ele o traz, por trás, vindo detrás... "Mais uma vez ele chegou", mas quem o trouxe senão eu, sendo ele mesmo? Não é bem-vindo, não estou rindo, te quero longe, sem me levar à ponte, chega de me devorar em mim enquanto me alimento do medo sem fim. Gritos e tapas, alucinógenos reais, eu que criei, volto a mim e me ressinto um rei. Reino quebrado, inteiro atordoado, sem vontade de continuar com o reinado. Súditos meus, amores meus, enquanto me dá a vida, eu mesmo a destruo em mim, por medo de mim, por fome de mim, por confundir-me comigo, em mim. Precisa anorexiar esse medo, tirá-lo o alimento que em mim, o sou. Mas se parar de ser, não mais será. O mal que há, não há, se não houver. Mas para não haver, precisa-se crer. Crer em que? "Oh, fé, oh fé". Confundo-me em tudo, apático por si só. As cores me bombardeiam de todos os lados. Medo. Sentir medo de sentir, já me faz sentir medo, pois estou sentindo. Mas sentimentos têm cores, não são iguais. De medo em medo a ansiedade enche o papo; esse papo me convence, me vence, me derrota. Cada perda uma conquista - una-me de armas contra mim, pois sou o meu adversário mais complexo - sei minhas estratégias e minhas estratégias me sabem, difícil não nos sabermos sem nos sabermos, todos ganham e todos perdem. Mas aos poucos meus medos não mais me conseguem. 

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