eu tremi de coragem

 

E é lá, quando a coisa fica séria de verdade e você para com o faz de conta, existe você e sua força colocadas em check. Ser forte quando achamos que estamos mal, achando que estamos lidando com os nossos demônios, é uma coisa. Aí quando ele vem e te olha de frente, olho no olho e percebe que você está sozinho, em lugar inóspito, longe dos apoios; é lá, sem faz de conta, que você prova seu valor a si mesmo. Ou nem mesmo assim, o medo te drena, te incapacita, te impossibilita. Pergunto-me a respeito da glória dos corajosos e deixo minha cabeça navegar nos mares de ideias de que eles tremiam de medo no banheiro, como eu. Que eles choravam antes de dormir, como eu. Desejavam que a realidade – num todo – fosse diferente, menos árdua, como eu. Achar-me como eles me coloca como um corajoso glorioso também, talvez, mas sei que não sou corajoso ainda, vivo deixando o medo de matar. 




Repito, enfaticamente esta ironia, eu vivo deixando o medo me matar.  Sei que não vivo e entendo que morro um pouco mais a cada dia – de todas as formas: cientificamente no DNA; biologicamente na aparência; psicologicamente nas barreiras e lagos que me cercam e afogam; emocionalmente medindo os batimentos cardíacos quando sinto-me nervoso por sair sozinho e ir à uma farmácia, entrar em pânico no caixa e sair correndo para casa. Que vida é essa? Fruto de números iguais, como 2020? Fruto tipo maçã podre? Fruto, tipo frutinha que dessa fruta comem até o caroço? Vai ver eu é que sou um caroço medroso. Ou vejo a vida como um caroço. Ou sou só fruta podre mesmo. No entanto tem aquele lado que dói, e é exatamente ele que me faz não querer desistir e por isso que eu tremo feito um terremoto! Por isso eu choro feito um dilúvio, por isso eu quero ser glorioso na coragem: porque eu a tenho dentro de mim. Agora digo isto: será que sou corajoso o suficiente para viver na coragem? Tremi só de pensar...

Comentários

Postagens mais visitadas