Noventa e nove testes de paciência
Assim vivo minha vida?
Dentro do quarto, nessa cama? — questiona a dor no pescoço que já doía há um tempo. “deitado assim…”
Olho ao redor. Sinto a pressão de existir; a sensação me arrasta para caminhos que não receio, a sigo.
Ao divagar ao som de “let it happen” do Tame Impala, debaixo da luz amarela, um supercorte de imagens busca o meu embarque: seja aqui, seja lá onde for, o desconforto é meu colega viajante.
Não é a primeira vez que recebo a sentença por um crime que não conheço. Existir todos os dias tem sabor de crime e punição. E de liberdade quando peço uma pizza. E ao comer, punição mais forte, odiar meu corpo. Pizza de sabor desconforto.
Inventei de gostar de alguém que não me sabe.
Vejo seus olhos.
Eles são de tamanhos diferentes, como seus lábios, o debaixo mais carnudo. A assimetria das coisas, e das pessoas, e da vida. Eu, assimétrico, e sinto que minha outra metade, se existe, faz falta por não me compor.
Nos teus olhos queria ver o brilho da lua criar uma réplica, enquanto você olha pros meus.
Mas
Não tem você, nem lua, nem eu.
É desconforto.
E de repente, um dia, me tornei adulto. E assumi que a solidão embaixo da luz amarela é a única amiga que eu conheço.
Nessa solidão/madrugada depois da segunda lata de cerveja, com música que machuca meu coração e me dá prazer, penso que pensar em você me faz descabido, descuidado e iludido.
Vislumbrar você faz de mim um peixe que sonha voar; falar com você ensina que sair da água me faria afogar.
Respiro calmo, em silêncio, desenhando seu semblante misturado com o meu, sempre de olho fechado, imaginando voar.
Sempre cansado por correr de tudo que a vida me propõe, viver é desconfortável, não sinto conforto em lugar algum. Com ninguém. Somente sozinho. E sozinho também cansa, porque não divido o peso de existir. Junto, o peso duplica e quero fugir.
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