Não sinto a palavra ódio

Fratura

Só aquilo que verdadeiramente encaro é passível de ser amado ou odiado; do mais profundo interior até a fronteira exterior; onde chove e onde há seca, onde vive e onde mata. 

Linha e farinha

Há uma linha tênue que define os limites entre mágoa e amor. Consideremo-los farinha do mesmo saco. Farinha que faz bolo e que faz pão. Questiono um ser bolo e o outro pão. Se são do mesmo saco...

Despersona

Frequentemente desconectado do intrínseco tento entender o conceito de amor e ódio  mágoa. Não sinto a palavra ódio. Há de se esperar que em pêndulo um pode atravessar o outro se misturando e depois separando, transformando. E de novo procuro por essa linha que separa os dois. Parece até que essa linha foi invenção minha...

...como o bolo e o pão. Vai ver é uma coisa só. 

Se me sorri, é amor e se me chora é ódio mágoa. O mais simples e mediocre divórcio dos dois... me ajuda a compreender no momento... mas indagar depois...

O conto do Rei

Houve um tempo onde arroz era alento para o estômago do castelo da mãe, onde os pequenos dos reis almejavam por mais, talvez feijão. 

O Rei Gordo, o maior de todos, só achava que era Rei, era na verdade apenas gordo; que comandava o reinado sendo apenas mero vassalo; em moradia com o dragão de buceta grande que procria um bastardo pra cada amante. 

O banquete no prostíbulo era farto, de fato, se podia comer de colher ou de garfo. 

Em mim, essa mera lembrança impera como lei onde antes me batia amor, agora me bate ódio  com mágoa, um homem que sempre amei. É o banquete d'O Rei Gordo. 

Posso amá-lo, mas não quero. 

São muitas as perguntas que me incomodam por resposta de: por quê? Por que não querer? O meu não querer não é, necessariamente, mal querer.

Isso não demonstra a nuance do amor dentro da ódio mágoa, não mal querê-lo, por mais que nem bem querê-lo quero também.

Então talvez seja desamor e não ódio mágoa, ou amor que dói e se acha ódio mágoa. Questões, questões, questões...


Achei uma linha, finalmente. 

Não é uma situação de "mal querer". É simplesmente "não querer". 

Não quero. 

Se a mágoa é amor que dói o mais sano seria não querer doê-lo mais uma vez. 

É aquele joelho que te dói e você sabe que dói, sabe o que piora e sabe o que pode acontecer se esforçar demais. Isso é cautela. 

Achei mais uma linha. Cautela. 

Ela serve para separar o que dói do que constrói. O pêndulo que vai e vem entre os dois lados, de amor à ódio mágoa, de mágoa à perdão, atravessa a cautela na medida que ela o permite. Não quero voltar àquele banquete e não quero voltar aos arrozais. Mantenho-me firme, de pé, bem no meio, sem me mexer e sem esperar nada mais. 

E vale esse adendo: as preces levianas que vão soltas no ar são atendidas pelas brisas, já as preces que vão pesadas ao céu, são atendidas por algo que entende de gravidade. E se posso vencer a gravidade com meu pedido dum coração pesado, posso esperar milagre, uma vez que a descida é sempre mais confortável e certeira que a subida. 


Desçam à mim em chuva a prece que te rogo, céu, e aí conversamos de novo.

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