eu também brilhei, e eu também era lua, e eu também era sol
O ar estava quente embaixo da árvore como se a brisa tivesse esquecido como atravessar as folhas e os galhos. Os mosquitos me usaram como fonte de vitamina e quase me carregaram à força porta afora. Dava pra ouvir o murmúrio das folhas no topo da árvore sussurrando que a noite seria diferente, mas que o calor não iria passar.
Eu queria fugir, mas algo - talvez a maquinação cósmica - sibilava para eu ficar.
Algo parecia fora do lugar.
Talvez eu estivesse fora do lugar.
Contei meus batimentos que pulsavam na minha garganta até eles se misturarem ao desejo de esquecer meus pensamentos.
A lata de xeque-mate estava amassada e o gás já havia se despedido do líquido que eu ainda insistia em beber, apesar do estômago estar pegando fogo. O nervosismo foi interrompido por um soco no estômago assim que senti, em sentido-aranha, a aproximação elétrica de alguém. Nossos olhos se encontram e eu fui atropelado por um caminhão.
O ar quente já estava parecendo frio na medida que meu corpo esquentava e minha respiração buscava por mais, mais e mais. O lugar estava cheio e todas as mesas estavam ocupadas de pessoas - mas eu podia vê-lo mesmo através da fumaça que quase matou minha amiga asmática que assistia o espetáculo de camarote.
Quando finalmente tive a chance de encontrar uma mesa vazia, escolhi uma cadeira que me desse uma visão privilegiada do espaço. Me despedi da árvore - que não ironicamente possuía um rosto sofrido - e permiti que os pernilongos me flutuassem até meu novo posto.
Um mundo inteiro - um abismo - me separava do responsável por todo o terremoto no meu peito. O abismo era uma mesa cheia de homens de shorts jeans que fumavam e falavam sobre futebol.
A lua estava visível agora, grande e redonda, e me fez pensar o quão perto - e tão longe - ela estava de mim naquela noite, assim como ele. Tão perto, mas tão longe e inalcançável. Se ao menos eu tivesse uma ponte que me ajudasse a atravessar esse abismo, eu enfrentaria meu medo de altura, me penduraria em cordas e faria a atravessia.
E lá estava ela.
A ponte.
Talvez quando olhemos para a lua ela nos olhe de volta e isso nos aproxime de alguma forma; um jeito de estarmos juntos mesmo a milhares de quilômetros de distância - e foi assim que me senti com ele, assim que nossos olhos se encontraram. Timidamente, ele olhou para o outro lado e eu também.
A lua está me olhando hoje, sempre achei que ela me odiasse.
Mais um gole de xeque-mate e aventurei a olhar novamente em direção de seu brilho e a peguei de surpresa, olhando-me distraidamente, descansando seus olhos em mim. Num piscar de olhos, logo se desviaram, mas o momento foi suficiente para eu invejar o sol que a toca e a ilumina todos os dias.
Mal sabia eu que o brilho do sol estava ali o tempo todo enquanto eu olhava para ele como lua, pois assim que seu sorriso se abriu em minha direção eu também brilhei, e eu também era lua, e eu também era sol.
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