Paredes

  Estou aqui de prontidão, à espera de minha inspiração. Ela chega de modo gradativo. É como uma injeção de ânimo, mas a seringa está enferrujada. Talvez doe, talvez nem funcione. Talvez. A vida está cheia de talvezes. O caos que nos rodeia, nos invade, até na mais profunda intimidade. E ao íntimo lanço meu desdém, afinal, mal consigo me arrumar, o vento me desarruma. Ando e aprendo. Aprendo e ando ainda mais.
  Às vezes preciso de paredes, para poder me escorar enquanto ando. Mas as paredes que me rodeavam, me seguravam e guardavam, foram de uma vez, direta e completamente destruídas. Ando só, não existe mais um corredor. Meu corredor agora é o ar, impossível de se agarrar. Impossível de debruçar pra chorar. Sorte a minha que quase nunca as lágrimas vêm. Mas se viessem, o que me restaria seria o chão. Mas por que iria deitar? Quem me ajudaria a me levantar? Ter que levantar mais uma vez. As paredes não existem mais.
  Calma, terei calma. Não terei medo de ter medo. Não ficarei ansioso. Felizmente estou construindo, aos poucos, uma nova parede, que mal toco. Mas acaba me tocando, por saber que ali está. Às vezes não percebe, e se percebe, disfarça bem. Mas a grande muralha está longe de mim. Mas quando chegar até ela, debruçarei de tal modo que, a cansarei. Essa nova parede é uma substituição satisfatória, que me alimenta devagarinho e me enche. Sinto-me acolhido, finalmente. Parede, como me admiras! Admiro a ti também. Sincera e veementemente a força está nessa fraqueza.
  Logo o cimento o cobrirá, logo se tornará forte e indestrutível. Os indestrutíveis só podem ser destruídos por si mesmos. Não se destrua e não me destruirá. À você me escoro, e à você deposito minha confiança, que afinal lhe acimentará.

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