Olhos ao Cheiro da Madeira
- Qual é o problema agora? - ouço uma voz distante conversando comigo de uma forma que sugere impaciência. - Como alguém iluminado pelo sol se espanta tanto com a sombra? As nuvens sempre existirão. Acostume-se. Aliás, você mesmo disse que gosta da chuva.
Eu estava sentado com os cotovelos nos joelhos e com as mãos cobrindo o rosto, eu arquejava e suava frio, então, por fim, disse:
- Minha cabeça pode ser bem sacana. A chuva vira um dilúvio, tenho medo de morrer afogado. - Digo balbuciando. Não sei porquê, mas sinto-me enjoado.
- Você se afoga em você mesmo... seu medo é seu... seu medo é você. Não culpe o que você ainda nem ao menos consegue alcançar. Sem mencionar os pensamentos naqueles rasgos que fingem-se de olhos.
Hesito por um momento sem saber como reagir. Saber dos olhos é demais. Aqueles olhos são meus. Não meus... mas são para mim. São olhares dirigidos à mim. Sou o espelho que os olhos encaram.
- Não tenho culpa. Ando carente. - falo por fim. E como resposta ouço um riso gostoso de uma voz experiente. Minha cabeça talvez não seja tão sacana assim. Talvez eu que seja, por sacanea-la novamente com a presença dos olhos e do cheiro amadeirado da pele. Sigo um caminho implacável onde esses dois aspectos são intragáveis. Mas quem sabe se leva-los comigo, camuflado naquelas nuvens do dilúvio, não os escondo à eternidade.
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