Água
Uma semana de afagos e afogamentos, onde nossos pescoços ficaram pendurados e pisávamos num bloco de gelo escorregadio. Nos demos as mãos para que se fosse o fim, que finalizássemos juntos. Minha corda estava frouxa, então eu conseguia respirar, mesmo que com dificuldade. Minha vida passava diante dos meus olhos e eu contava minhas cicatrizes. Eram mais de duzentas, só as do corpo. Suas cicatrizes são incontáveis e sua corda estava te asfixiando. Seus olhos multicoloridos estavam pretos. Alguns transeuntes estavam perplexos com as formas que saíam de sua aura, luzes multicoloridas e quentes. Até que então, o gelo derreteu. Mas começamos a nos afogar. Saber nadar era uma dádiva, mas nossos corpos pesavam mais de uma tonelada. Afundamos. Cada metro quadrado uma lembrança ou um sentimento nos era enfiado goela abaixo e a respiração já estava extinta. Encostei meus lábios nos seus e soprei todo o meu ar dentro do seu pulmão. Seus olhos se abriram multicoloridos e seu corpo ficou leve como uma pluma. Você começou a flutuar e eu fiquei no fundo do meu abismo, pesado como uma montanha. Mas eu estava feliz, pois vi pela ultima vez as cores brilhantes dos olhos que amei e enquando você subia alegre para a superfície, eu me desvinculei do mundo e brinquei de ser um soldadinho de chumbo. Eis que uma baleia me engoliu, e você a havia adestrado, como no seu sonho tão esperado. Fui jogado para cima como uma bola sendo chutada. Até doeu. Mas pousei em seus braços e por lá fiquei.
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