Um dia prometo deixá-lo ir, mas hoje não
Quebrei uma caneca no banheiro.
Todos os dias olho pros cacos empilhados num canto.
Ouço minhas vãs promessas: um dia eu recolho.
Mas não recolho.
Mantenho os cacos de algo querido, não deixo ir embora.
A porcelana se torna dramática ao quebrar e em caco machuca.
Penso sobre minhas dores, eu as mantenho empilhadas num canto dentro de mim.
Sempre tive dificuldade em me desfazer das coisas, até mesmo das que não mais serviam.
Minha relutância de abrir mão não me impede de ver que não os deixo ir.
Piso nas dores sabendo que elas vão me doer de volta.
Eu as defendo! São dores! São cacos! É o que cacos fazem!
Olho para o pedaço maior de caco e ele me olha de volta. Eu em compaixão, ele em súplica.
Eu o cumprimento com um empurrãozinho do meu pé. Afeto. Entendendo-o, finalmente. Somos espelho um do outro, cacos que se encaram.
“Um dia prometo deixá-lo ir, mas hoje não”.



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