E do árduo que eu falo

Parasitária a existência daquele que subverte o homem a casulo acoplando-se pelo mero suprimento a fim de destruí-lo pouco a pouco, alimentando-se, em ininterrupta absorção da vitalidade daquele. 

Sua viscosidade espelha um reflexo daquele a quem mira sua atenção, como um chifre demoniaco que emite sinais confusos em contradição.

O então casulo-suprimento, ao olhar para si mesmo, apaixona-se perdidamente pela própria imagem, em um desprendimento grotesco entre realidade e uma fantasia decorativa  posicionada estrategicamente em forma de conexão amorosa.

Ao encontrar o alvo compatível prepara-se para abocanhá-lo num bote, como uma naja venenosa, na ferocidade da luz. Após pegá-lo e mantê-lo firme em isolamento e sufocamento nos seus emaranhados, começa a confundí-lo de que o que sente é o abraço e a força do cuidado. 

"Está apertado demais, não consigo respirar" pensa o alvo. Sagaz como um obsessor treinado, ao notar as nuances vitais esvaindo-se do alvo, afrouxa o enrolar da naja deixando-o sentir uma falsa sensação de bem estar e liberdade. 

Sua viscosidade ao mesmo tempo que reflete a imagem do alvo em pura adoração, o torna mais escorregadio que uma enguia elétrica. É impossível tê-lo nos braços de verdade, caso as mãos do alvo não tenham a firmeza de segurá-lo, este o torna o indiscutível responsável pelo fracasso previamente programado. O alvo se torna saco de pancadas. E a cada dor, o viscoso de sabugosa se torna um grande masturbador sádico de dor-que-se-torna-fonte. 

Viscoso também no grude que mantém o alvo afogado nas próprias lamúrias, em uma completa confusão. Tornou-se grudado a um ser com atribuições que servem como uma luva... Às vezes a luva aperta e o alvo não sente mais seus dedos, não sente mais a sua pulsação. Estaria este a morrer? Ainda não. O viscoso precisa de mais. 

Enrola-se em volta do pescoço do seu alvo, como uma linda demonstração de como formar o nó que será responsável por asfixiá-lo até não houver mais nutrientes vivos capazes de alimentar sua voracidade. 

O alvo não consegue se desprender da viscosidade grudenta, mesmo escorregadia, pois está esmagado no peso do veneno depositado diariamente em seu mais íntimo aspecto, dormindo e acordando vivendo em pleno pesadelo, querendo acordar de um inferno que de vez em quando reflete um céu estrelado.

E sua viscosidade continuava a perpetuar emoções refletidas para continuar a hipnotizar o alvo-casulo-quase-sem-suprimento-nutritivo.



"Eu vivi há 10 mil anos atrás" diz o alvo.

"Eu vivi há 10 mil anos atrás" diz o viscoso.

"Eu vivi há 10 mil anos atrás, e havia um homem ao meu lado"

"Eu vivi há 10 mil anos atrás, e havia um homem ao meu lado"

"Eu amava este homem, que estava ao meu lado, há 10 mil anos atrás"


"Eu amava ainda mais este homem, que estava ao meu lado, há 10 mil anos atrás"



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