It Could Be Summier
Mais uma vez fui àquela esquina movimentada da periferia me encontrar com você. Havia muitas pessoas olhando, com curiosidade, pra minha figura desarrumada e desajeitada; encostada na parede, ignorando o mundo e dando atenção apenas ao que tocava nos fones de ouvido. Uma senhora muito idosa viu-me e soltou um suspiro de pena, fingi não ter visto. Logo em seguida olhou para minha calça rasgada e dela pra mim.
"Mas que absurdo, nessa idade..." a velha resmungava. Discretamente, coloquei minha mão no bolso do meu moletom - preto e comum - e aumentei o volume da musica. Três musicas já foram, desde a idosa ousada. Não ouvia nada além da animação em forma de som. Meu celular treme. "Uma mensagem" penso. Nela havia:
"Olhe pra frente, seu tapado"
Estava ali, imóvel, sorrindo, esperando por mim. Meu coração deu um salto involuntário, aquilo me assustou. Esse tipo de reação era completamente estranho ao que estava acostumado, mas não deixava de amar aquela sensação.
"Você veio" eu disse, brecando oitenta por cento do sorriso que queria dar, e ainda assim pareceu demasiado grande.
"Mas é claro, ué" disse me cumprimentando com um abraço. Você estava quente. Sentia também, que estava hesitando. O que havia de errado? Minha consciência dizia que você estava escondendo algo. Mas se tinha algo a dizer, o faria, não? Eu odiava ser invasor e sabia o quanto você odiava que invadissem seu espaço. Mas eu ansiava em participar daquele espaço. Do seu mundo.
"Então vamos" disse, fazendo que eu seguisse. Não andava devagar, parecia estar com pressa, fugindo. De mim? Do que?
Por que não esperou?
Você me preocupava. Não conseguia imaginar o porquê de você ter me deixado sozinho, e aquela sensação esmagadora que gritava "TEM ALGO ERRADO" se confirmou com sua ausência. Meu medo e minha insegurança começaram a dançar em volta da minha cabeça, exibindo sua força contra mim, tentando me deixar ainda mais amedrontado.
Depois desse dia não te vi mais. Não fiquei sabendo de nada sobre você. As únicas conclusões sobre como você estava eram através dos meus sonhos. Às vezes sonhava com seu sorriso: está tudo bem. Às vezes você chorava: onde você está? Não posso te ajudar assim. Às vezes você ficava de costas: por que quer me abandonar?
Foi aí que entendi aquele abraço cheio de hesitação. Era um adeus.
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