Dum quase outono

  Inacreditavelmente aquela bolinha negra e reluzente, translúcida, cultivou a semente. Nada pude fazer para evitar. Para ser sincero, não a percebi agindo. Quando notei ainda era noite, mas tarde demais! O dia havia chegado, tudo muito rápido. E com sua luz, pelas frestas esculpidas às marteladas da amargura, entrou uma aranha e um escorpião disfarçado de zebra. O molestado, tão encantador, já não tinha o mesmo encanto. Não naquele dia. Minhas vontades, antes fortes como um muro, desabaram pedra por pedra, igual as folhas mortas no outono. A impaciência era como o vento, era salvador! Varria tudo o que tocava. Esse era o lado bom. Depois com a chegada do inverno, tudo se congelou. A trave resistia! E eu também. Vi um cisco de luz perto da cortina azul da sala, e tive certeza que ainda me observavam. Graças! E lá se foi, naquele gole de água, da única água, um desespero dum quase outono.

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