Uma garrafa

  Pareço estar voltando para o casulo. Entrei na garrafa na hora errada e me dei mal, a sensação era dementadora. Molhei a cabeça e me deitei, sonhei com fantasmas de um passado que, até hoje, é presente e vivo na minha cabeça. A lembrança é forte, sim. "Anata wa boku no ichiban desu." Repito mentalmente o que foi dito e sinto um fluxo esquisito percorrer meu corpo. Que diabos é isso? Sou ichiban porcaria nenhuma! Se eu fosse, estaria lá, como ichiban, no lugar de um ichiban na sua vida. Com o tempo criei um desafeto com essa palavra. Ela significa "primeiro". Sou o primeiro em quê, exatamente, para você? A garrafa devia ter me ajudado. Ajudou, mas não como eu planejava. De suas gotas só vieram inspiração e mais melancolia, da fumaça uma dor de barriga! Penso todos os dias, nos momentos mais inesperados, como era ser ichiban. O primeiro! Lembro das promessas, tão frágeis quanto as minhas. Minhas promessas viraram cicatriz naquela noite, lembra? Culpa de outra garrafa. Meus dedos ficaram sangrando quando desmontei aquilo. Argh, não gosto de pensar nisso. Na verdade, não gosto de pensar em nada. Você é um estupro mental. E depois de muito tempo, você está sendo ichiban para essas palavras, por que sempre foram neutras. Acordo amassado, a ressaca dos sonhos me açoitando os olhos. Vou até o seu casulo, mas você já voou.

Comentários

Postagens mais visitadas