Moletom
Ando procurando refúgio dentro de cada canto, mas com o meu canto eu não me vejo tão só. Meu caminho parece estar fechado por força maior, mas sinto que o criador prepara grandes oportunidades para mim. No caminhar encontrei vários rostos. Um de óculos e um com olheiras e cara de doente. Um me enfraqueceu a muralha e o outro incitou a náusea. Mas são rostos bonitos. O que me dá náusea tem caráter leviano, já o doente, corre mais que cachorro atrás de gato.
Nada me agrada, e eu não agrado ninguém. Sou tão momentâneo quando um chuvisco no verão. Sou uma pancada de chuva sem campo para molhar, mas ainda chego lá. Quero entrar pro Love Club, mas quem dançaria comigo, sapateou para longe, onde o moletom é indispensável. Às vezes deixo as coisas tão na cara que é como um tapa, e daqueles que deixam marca. Mas se recusam a ver e a sentir porque eu também o faço.
Dos rostos, prefiro o rasgadinho, pois aquele tem o meu jeitinho e do cheiro me recordo sempre que meus olhos se fecham... Mas não existe. Sou criador de ilusões e elas são como cordas conjuradas em volta do meu pescoço e coração.
Hoje eu me senti sangrar pela primeira vez. Engoli o choro com um don't you fucking cry now. Don't you dare, e funcionou. Mas foi como engolir veneno que me mataria aos poucos. Tenho receio da desaprovação de quem eu procuro ser aprovado com três sim e passar pra próxima fase. Mas tô na fase do chefão, com apenas uma vida para gastar e arriscar.
Deixo na cara também o sorriso que tantas vezes me envelhece por causa da barba mal cuidada. Mas sou velho de alma. Ter 89 anos ainda me deixa jovem. Isso é até bom. Mas cansei de viver como quem já experimentou de tudo. Meu paladar é aguçado, eu é que sou assustado.
Mas um dia bato isso tudo num liquidificador sem tampa e meus sentimentos voarão para todos os cantos que eu quero preencher. Um deles vai encontrar refúgio, e esse meu refúgio vai me abraçar como um moletom indispensável. E quando eu me sentir seguro, pela primeira vez na vida, eu vivo pela primeira vez.
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