Tô de Vela

Nunca aguentei o romantismo demasiado dos casais que flutuam na minha zona de solidão. E na zona de amigos. Sempre despejei desdém aos que demonstravam afeto aos olhos do Estado e para quem quisesse ver o estado dos pombos da paixão. Talvez o incômodo consistia na minha existência coadjuvante com papel de vela de pavio curto, que queimava rápido demais. Também existem aquelas velas de aniversário. Bonitas, enfeitadas, que possuem um fogo explosivo, que enquanto dura é majestoso e dono de desejos. Mas o desejo só pode ser feito se a vela for soprada. Meu coração bate por uma vela de aniversário. A mais linda vela de aniversário que existe. E nossa vida já foi um bolo sobre o qual estivemos juntos de mãos imaginárias dadas. Mas o sopro apagou o meu desejo e destruiu meu sonho de derreter meu pavio junto com o seu. Mal pudemos comer o bolo depois de nossa extinção. A dieta de bons sentimentos secundários não nos permitiu. Ah, como eu gosto de ouvir Kings of Leon. Principalmente em dias de chuva. Lembrando daqueles casais flutuantes que me nauseavam as palavras até saírem da minha boca em forma de suspiro, eu me imagino na pele deles. Sentindo o cheiro da sua fumaça, sendo queimada antes do sopro final. Preferiria perambular por aí, choramingando pelos cantos com seu nome em meus lábios, do que me queimar ao lado de uma vela qualquer. E o meu sopro final é você.

Comentários

Postagens mais visitadas