me equilibro para não cair num penhasco obscuro, conhecido, cheio de mim

O que difere fé de ilusão senão 

o coração que pulsa em uma
e se consome na outra.




A ilusão é a fé que acorda de um sonho e percebe que tudo não passou de uma viagem onde você fez a mala. A linha que separa a fé da ilusão eu chamo de desejo; aquele tóxico que te embebeda deliciosamente. Julgo imprudente achar que fé é um pensamento exercitado como 100 polichinelos, repetidos e com disciplina, senão aí eu já comecei perdendo. Não é também indulgência em remissão total dos pecados e outras imoralidades que cometo só de existir, e pisar em terra firme e querer segurar a mão de alguém como eu. 

Toca o coração

Se não toca o coração não é fé. E o que é que consegue entrar nessa casca dura, amarga e solitária? Se a fé é o que toca meu coração ele já foi fé. Meu amor por alguém já foi fé. E aí virou ilusão, o coração parou de bater em prol dele. E aí voltou a bater e voltou a parar. Fé e ilusão. 

A ilusão, 

por outro lado se mantém ao junto da fé como o diabo no ombro de um fervoroso cristão. De nada adianta a fervura se o coração não aquece. De nada adianta a frieza, se o coração está em chamas. E ele arde, e talvez por um motivo bobo demais, um sonho que me fez sentir no peito, lá dentro, a proximidade que só a fé entende. Será que meu amor é forte o suficiente pra fazer os céus ouvirem tais preces, verem que meu coração agora pulsa por alguém; ou é ilusão achar que os céus sequer ouvem? Ilusão achar que o que sinto que existe dentro também existe fora.

Em uma corda

bamba me equilibro para não cair num penhasco obscuro, conhecido, cheio de mim. Ilusão é achar que fora dos meus olhos, o mundo me vê como eu o vejo: você sendo meu, eu no seu beijo. 



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